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Juntar, Verbo Feminino - Ana Cláudia Cesar

Atualizado: 22 de fev. de 2023


Ana Cláudia e seu cavaquinho.

Idealizadora, fundadora e cavaquinista do grupo Choronas, Ana Cláudia Cesar já conjugava o verbo reinventar muito antes da pandemia. Uma força criadora e criativa, é também declaradamente controversa. Durante nossa conversa em setembro de 2020, uma palavra me pareceu defini-la melhor: realizadora.

Com mais de 40 anos de carreira, começou a tocar cavaquinho aos 18 no bar Vida e Arte no bairro de Pinheiros/SP. Ali conheceu Carioca, chorão ‘das antigas’ que foi seu orientador. “Aprendi choro na prática olhando ele tocar e imitando no cavaquinho. A noite foi a minha grande escola” diz a Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Mackenzie. “Eu ia com a cara-dura nas rodas. Às vezes era bem tratada, às vezes não.”



Choronas


“Quando eu tive a ideia das Choronas, eu era apaixonada por choro, mas as meninas não sabiam o que era noite. Noite era pra dormir.” As meninas eram Gabriela Machado e Paola Picherzky, de formação erudita. Ana Claudia também convidou a percussionista Miriam Cápua, atual integrante, que indicou uma aluna, Roseli Câmara, assistente social que trabalhava com o pessoal do Teatro da Vertigem.


“As primeiras Choronas eram muito porretas, as 4 se bancavam, enfrentavam, produziam. A gente não pedia opinião, a gente fazia.”

Com Roseli, o grupo ganhou também uma grande produtora. “Ela tinha muito contato com teatro. E o povo do teatro não é como músico que tá tudo pronto, ele chega e toca. E a Roseli tinha essa coisa do faz tudo e trouxe figurinista, trouxe cenógrafo, iluminador, diretora cênica, uma visão que a gente não fazia ideia. O Matheus Nachtergale, a Mariana Lima, até o Tó (Antônio Araújo) deram palpites, ajudaram em muitas coisas. Por isso que as Choronas, num primeiro estágio, fez o que fez.” Em 2015, a flautista e compositora Maicira Trevisan substitui Gabriela, formando o quarteto atual.



E como primeiro grupo de choro feminino, Ana Cláudia queria ‘causar’. Além dos toques cênicos, passaram a tocar de pé e não em uma roda fechada, que era para interagir com o público. Ela acredita que para se chegar numa profissionalização com qualidade artística não adianta só tocar bem. Tem que ter boas ideias, saber vender, escrever.


“As Choronas são o meu legado. É uma história da qual eu tenho muito orgulho.”

Sempre há os "do contra"...


E tem muita gente que diz que as Choronas só fazem sucesso por que são mulheres. Mas não dá pra sobreviver 25 anos somente com essa premissa. "Claro que a gente evoluiu musicalmente, mas tem que ter ideias." E para cada novo CD, uma ideia diferente. “O primeiro CD foi em homenagem a Chiquinha Gonzaga, o 2º. com convidados. O 3º. saiu pelo Brasil ouvindo e gravando os choros. O 4º. eu queria fazer há muito tempo, é o Choronas em Sampa que é um agradecimento à cidade.” Composição de Ana Cláudia, a música que dá nome ao CD virou um vídeo clipe em homenagem a São Paulo e é o primeiro clipe de choro em animação da história!



Também dizem que nas Choronas falta uma solista virtuose. Pode ser. Mas não falta atenção aos detalhes, capricho e generosidade, inclusive na maneira de tocar. “Um solista com um monte acompanhando já tinha a vida inteira. Nossas perspectivas, sensações, ambições são diferentes e o resultado artístico também é. Eu não sou solista, mas solo. A mão direita do cavaco é a alma do instrumento, o mais difícil tá no centro, e eu fico muito orgulhosa de ser uma super centrista.”


Dedo de Moça


Ana Cláudia pôde explorar bem essa ideia do cavaquinho percussivo entre 2014 e 2019 com o grupo Dedo de Moça. “Foi uma ideia minha, eu queria juntar erudito e popular. Fiquei insistindo e saiu. Foi o disco mais elaborado que eu fiz. Tive que estudar mais, respeitar o arranjo da Cíntia Zanco e da Rosana Bergamasco e fui muito feliz de tocar com essas arranjadoras.” Completa o grupo a multi-instrumentista Ana Elisa Colomar (flauta, saxofone e violoncelo) com quem eu divido os palcos no Mawaca.


Dedo de Moça: Ana Cláudia Cesar, Cintia Zanco, Ana Eliza Colomar, Rosana Bergamasco


Há uma vertente do choro conservadora que não admite misturas e inovações. Ana Cláudia chama a atenção para as desvantagens dessa rigidez: “Há 2 coisas do movimento choro que eu acho importante. Primeiro: você tem que convencer os jovens a tocar, senão a música morre. Um monte de jovens que estão aí tocando, fui eu que formei na ULM (atual EMESP). Segunda coisa: O Brasil é um país da canção. Quanto mais virar canção, mais vai se difundir. O Carinhoso depois de 17 anos ficou famoso por quê virou uma canção.”


Mulheres no choro


As Choronas têm grande importância para a mulher no choro, na música instrumental, para as profissionais da música. Muitas jovens choronas têm o grupo como referência fundamental. Pessoalmente, eu identifico nas Choronas, representadas por sua fundadora, elementos essenciais de resiliência. Com algumas raras excessões como Lina Pesce, Tia Amélia, Carolina Cardoso de Menezes, devidamente emudecidas, houve um hiato histórico gigante desde a fundação do choro com Antonio Callado e a Maestrina Chiquinha Gonzaga.

“Eu gostaria de fazer um trabalho acadêmico sobre as mulheres que não são reveladas nas composições. Anastácia, a mulher do Jackson (Almira Castilho), por exemplo, contribuíram para que as composições fizessem sucesso e ninguém fala delas. Existe uma estrutura para abafar. Não adianta só tocar. Tem que fazer a diferença. E muitas vezes tem que brigar. Se não for corajosa, briguenta, se posicionar, não faz história. E assim era Chiquinha. Eu acho que faltaram mais 'Chiquinhas Gonzagas'.”


Com expressiva atuação pedagógica inclusive com crianças na EMIA – Escola Municipal de Iniciação Artística de São Paulo, Ana Cláudia tem um livro publicado baseado em seu mestrado de 2011 pela Universidade Mackenzie, O cavaquinho encantando de Waldir Azevedo. "Nós temos que fazer isso mesmo, o lugar é nosso e temos que nos reverenciar. Quando eu fiz mestrado, uma editora de Curitiba (APPRIS) me perguntou se eu não queria lançar. E fui uma experiência bem bacana."


Como diz o ditado, 3 são os objetivos de uma vida: ter um filho, escrever um livro e plantar uma árvore. Ana Cláudia Cesar reinventa e resume em 2 metas: “Nós temos é que tocar um instrumento e fazer um grupo de mulheres.”


Outras Meninas por Ana Cláudia Cesar


Ana Cláudia Cesar recomenda o trabalho destas meninas.


Rosana Bergamasco https://youtu.be/Ppbs2qOfBaI



Colaborou: Jeanne de Castro


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