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Juntar, verbo feminino - Marta Ozzetti

Atualizado: 23 de out. de 2021


Anos 80, bem no início da carreira da Marta Ozzetti estava o choro. O longevo grupo Bola Preta que segundo seu arranjador Ruy Weber era um grupo sem pretensões, que se juntava para tocar simplesmente, "quando entrou a Marta, aí começou a ter cara de grupo mesmo". E é um grupão, 8 integrantes com uma trajetória linda que vale a pena conhecer. Ela lembra que era uma dificuldade ter acesso às partituras, algo inimaginável em tempos de Google e pdf. “Tinha aquele livrinho, 84 Chorinhos famosos e mais uma ou outra brochura e era só.” Naquela época ela foi participar do Festival de Música de Ouro Preto organizado pelo Toninho Horta e conheceu Henrique Cazes, cavaquinista e pesquisador entre outros títulos. Conversa de choro vai, conversa de choro vem, pronto, ganhou um calhamaço de partituras de choro.


Foto: Antonio Brasiliano
Marta Ozzetti por Antonio Brasiliano

No grupo Bola Preta Marta Ozzetti está entre amigos numa ligação afetiva como em muitas formações que integra. Talvez por toda essa afetividade a falta de mulheres nas bandas e grupos instrumentais poderia até ter-lhe passado despercebida. Era natural ser a única instrumentista nos grupos. “Eu estava ali com meus amigos músicos e não teria me dado conta. É lógico que existe (escassez de instrumentistas), mas era normal ser só eu de mulher ou ser minoria. Ainda somos minoria e agora isso é claro para mim. É uma questão."


Entre amigas ela está também na primeira 'all-woman' Big Band do Brasil, a Jazzmin’s idealizada por Lis de Carvalho e Paula Valente. Com formação menos tradicional para abarcar as participantes, a banda se prepara para lançar o primeiro álbum com 4 composições das próprias integrantes: 1 balada da pianista Lis de Carvalho e 2 composições de Gê Cortes que também fez arranjos.


Professora de flauta transversal da EMESP, ela percebe que suas alunas estão interessadas em improvisar, entender harmonia e considera que os grupos femininos tem um papel importante no desenvolvimento musical dessas habilidades. “É claro que é importante juntar as mulheres para ter mais força. Tem uma nova geração de 20, 30 anos, mulheres mais profissionalizadas que têm uma vida dura mas que conseguem conciliar a carreira musical."

É verdade que, nos dias de hoje, mesmo em uma estrutura familiar mais tradicional os companheiros dividem as tarefas e/ou 'invertem os papéis' sem crise. Concluo que o movimento de tomada dos espaços aconteceria naturalmente por causa dessa nova composição socio-familiar. Mas quem tem paciência de esperar? E aí entram as ativistas.


“Nos anos 80 tinha o grupo Kali que saía e ia tocar na noite e isso era muito diferente.”Em várias fases passaram pelo grupo Vera Figueiredo (bateria), Renata Montanari (guitarra), Gê Cortes (baixo), Mariô Rebouças (piano), Lis de Carvalho (piano), Tereza Moranduzzo (sax e flauta), Nebel Frota (sax e flauta), Miriam Cápua (percussão), Lilu Aguiar (piano) e Léa Freire (flauta). Só fera!

Para Marta Ozzetti um encontro musical, a formação de um grupo, seja ele misto ou exclusivamente feminino como exceção à regra tem um elemento fundamental. “O mais importante para se estar feliz tocando em grupo é quando isso faz sentido.”


O Trio que Chora faz sentido. Nasceu quinteto em apresentações no Tendal da Lapa, espaço cultural da Zona Oeste da capital paulista. Marta me mostra a tela que está na sua parede pintada naquela ocasião por uma artista que participava do evento com as 5 integrantes. O grupo ficou 'enxutinho' para viabilizar as apresentações e a realidade econômica do mercado, mas ainda assim diverso, com Rosana Bergamasco no violão 7-cordas e Cassia Maria na percussão além de Marta Ozzetti, três personalidades muito diferentes que transpiram sinergia. É muito lindo de ver e ouvir.


A liga foi tão boa que durante a quarentena, além das aulas remotas de flauta na EMESP e das muitas coisas que ela aproveita online, Marta compôs um choro com Rosana, cada uma da sua casa. "E já tem mais um Ijexá. Você acredita que eu nunca tinha feito uma música?" Quase não dá pra acreditar. Pode ser que estar entre as mulheres ajude a criação. Pode sim.


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Marta Ozzetti recomenda o trabalho destas meninas.




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